(...)
Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso
movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada
grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase
imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não
suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair
da cama.
Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco,
esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus
desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso
mais inventar amor só para poder falar dele.
(...)
Como será que é
acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do
messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da
vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade
sem achar que isso é banal?
Este é um não texto. Pra falar de um
não amor. Pra falar de um não homem. Pra falar de uma não fantasia,
invenção, personagem. Esse é um texto a favor da vida, pra falar da
vida. A vida com seus defeitos, cinzas, brancos, estagnações, paradas,
frios, silêncios, amenidades. A vida que pode não acelerar o peito e
deixar tudo com estrelinhas de purpurina. Mas que é incrível por ser
real.
A vida que não se escreve mas se vive, mesmo que isso, muitas
vezes, seja ainda mais difícil que qualquer regra gramatical ou
construção literária.
(Tati Bernardes)
Um comentário:
Somente uma grande mulher,sensivel e sensata como vc,pra ter tamanha inspiração e promover tão belas e sútis palavras de emoção... parabens pelo blog e por sua beleza interior!
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